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quarta-feira, 29 de abril de 2009

CLOTILDE X SUSAN

Mal Traçadas Linhas
escritas
depois de ler o artigo da Clotilde no Umas & Outras sobre a Susan Boyle:
http://clotildetavares.wordpress.com/2009/04/25/sou-feia-mas-tou-na-moda/

e depois de ver o vídeo da Susan no “Britain’s Got Talent”:
http://www.youtube.com/watch?v=j15caPf1FRk




Quando terminei de ler a matéria da Clotilde, eu pensei: perfeito! Não me identifico em nada com a Susan, mas estou completamente tomado pela matéria da Clotilde. Então me toquei que ainda não tinha visto, na integra, o vídeo de lançamento da Senhora Boyle e fui enfrentar o desafio de vislumbrar mais essa marmelada fabricada, na qual a sociedade precisa vez por outra, pra tentar se sentir melhor e não tão feia, fabricando novos modelos a não serem seguidos, "os chamados exemplos". Infelizmente, não resisti. Por mais que estivesse com o pé atrás para não gostar da Susan, de não me identificar com ela, de não tomá-la como exemplo de porra nenhuma, não resisti e chorei.
Como nos alertou a Clotilde em seu artigo, isso deve ser fabricado. Com certeza, no mínimo, ela deve ter ensaiado com play-back alguns horas antes, mas vou fazer o que? Me pegou! Os motivos devem já ter sido todos citados pela Clotilde. Digo “devem ter sido”, porque não sei conscientemente o motivo de ter chorado, de me ver nela, de ficar de alma lavada com a cara daqueles jurados babacas. Incrível como sei que tudo deve ter sido marcadinho, mas não consigo parar de sentir!
Uma coisa ao menos acredito ser verdade, a Susan realmente tem um sonho e por mais que o programa e a mídia a esteja usando, eu torço por ela e quero muito que ela se dê bem. Se ela não virar uma estrala como a Elaine Paige, a famosa cantora britânica que nunca tinha ouvido falar; queria ao menos que ela, quando a mídia a esquecer e sabemos que vai, voltasse pra seu vilarejo e continuasse cantando, nem que fosse naquela cantina no começo da cidade, que só abre aos domingos.
Essa fama repentina já fez bem a sua estima, deu consciência de que pode correr atrás de seu sonho, mas vai chegar a hora em que ela vai ter que ter força pra enfrentar a vida real, o estudo, o barzinho, novos concursos, enfim, batalhar como batalhamos na vida real, matando um leão por dia. E é nesse sentido que torço por ela. Sabemos que nossa área tem muito pouco glamour e é aí que há a separação de quem é celebridade e quem é um artista de verdade. Quem realmente é da área e quem foi apenas tomado como um exemplo de merda, um ícone superficial, que só ressalta os preconceitos.


Fico lembrando de quando uma jornalista ligou pra Eleonora com intenção de fazer uma matéria comigo. “O ator deficiente físico”. Até parece que posso ser exemplo pra alguém. Vocês sabem de todos meus defeitos e qualidades e, como vocês mesmos falam, pouco ou nada tem a ver com a seqüela de pólio, o profissional que sou. Pode até já ter tido, a muito tempo atrás, mas num sentido bem ao contrario, quando precisava, na minha cabeça, “ser melhor” para conseguir meu espaço. Tudo que não sou é um exemplo. Sou uma pessoa que trabalha, que erra, que é preguiçoso, que é genial, que é meio burrinho, que é tantas coisas boas e ruins... Como todo ser humano, não é?
Tomara que quando tudo isso passar, a Susan perceba que ela não só tem 47 anos, é gordinha e canta muito bem; tomara que perceba que não precisa ser exemplo pra ninguém e tomara que agüente o tombo de ser uma pessoa real, com problemas reais e persista no seu sonho, trabalhando para concretizá-lo.