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sexta-feira, 19 de março de 2010

O Aladim do Bom da Cena



Desde a estréia de Aladim nas Mil e uma Noites, que esperava uma oportunidade de assistir o novo espetáculo do Bom da Cena. A grande chance surgiu numa apresentação para escolas no meio da semana e claro, agarrei como um macaco frente a uma banana. E olhe, que banana gostosa! Quem assistiu A ver estrelas, marco na carreira do grupo, não sai decepcionado com essa bela obra de arte.

Para começar, a historia que é mostrada na peça é contada como sendo a 1001ª que Sherazade (Scheherazade) conta, tentando adiar a sua morte. Mas as diferenças com a mais famosa versão desta história, a da Disney, não para por aí...

O Bom da Cena, certamente, a partir de várias fontes de pesquisa, tras traços próprios aos personagens. Para dar um exemplo, o Gênio da Lâmpada não é um bobo, um canastrão, amigo incondicional de Aladim. Ele é forte, poderoso e tem consciência do seu poder, todavia sabe que só pode obedecer ao dono da lâmpada, seja ele quem for. Aladim ou qualquer outro e não sofre com isso.

Claro que na fonte no qual foi beber o grupo, o famoso filme deveria estar imerso, mas mesmo quando reconhecemos alguma apropriação, ela vem transformada, teatralizada... Também não dá pra ignorar o que o imaginário popular pós-tecnologia tem como verdade, como expectativa. O que dizer da inserção do personagem Astronauta em alguns folguedos brasileiros? Mas há de saber dosar isso e a direção soube fazê-lo muito bem. E sim, o gênio é azul!

Como em A ver Estrelas, a utilização de várias possibilidades possíveis numa trilha sonora, também caracteriza essa montagem. Sem medo de errar, de ferir a unidade do espetáculo, é utilizado músicas cantadas e tocadas ao vivo, músicas gravadas pelo elenco, efeitos sonoros e inclusive, alternâncias de músicas originais e consagradas.

Mas para quem já utilizou Não se Reprima, dos Menudos, numa obra de João Falcão, usar Thriller, nesse primeiro trabalho autoral do grupo, é até banal. Sim, Thriller, do falecido Michael Jackson, figura na trilha sonora do espetáculo. E sim, todas as referencias que temos a respeito dessa música nos vem, mas creio que a direção sabe e toma partido disso e nós (a platéia e o espetáculo) ficamos nessa brincadeira de “Eita, porra! Thriller, Michael, Mustafah, tumba, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk”

Eu ri, ri muito! Muito divertido ver Vlad improvisando brilhantemente... e ele canta, e interpreta, e toca, e faz munganga... Não vou ficar aqui entregando todas as surpresas do espetáculo, mas não tem preço o presente para o rei Toy-Toy, que ele representa. Falando do rei Toy-Toy, Ângelo, como ele é bacana, rapaz. Ele é o próprio brinquedo.

Mas continuemos falando do elenco: Francijane esta completamente plena como a narradora que invade o seu conto, criando pela sua vida e, de repente, numa troca de roupa ela vira uma de suas personagens, a mãe de Aladim, e se torna plena e hilária! Falando em Aladim, Edson, que já é lindo, está brincando, maravilhoso, de igual para igual com seus companheiros de cena muito mais experientes que ele. Maravilhoso ver seu crescimento, seu comprometimento, seu empenho com nossa arte.

Ana Raquel faz a princesa Yasmim, que alias, não é aquela princesa delicada, nem muito menos uma princesa guerreira; ela é uma anti-princesa clássica: completamente atrapalhada, engraçada birrenta. A atriz é notoriamente envolvida corporalmente com o personagem. Sem falar que canta. Lindo o dueto que ela faz com Edson.

Evaldo também esta muito bem, engraçado como sempre; o Grão Vizir é ótimo! Não gosto muito do Gênio do Anel, que ele também interpreta. As vezes nem entendo o que ele diz, mas espero ter sido problema daquela apresentação, pois como disse, era para crianças de escola. Um teatro lotado. Mas até que elas estavam bem compartadinhas, heim?!

Eita! Comecei a falar sobre a outra face da moeda, não foi? Mas enfim, não poso ficar aqui só lambendo meus colegas, sem apontar sugestões para melhorar o trabalho. Creio que a primeira troca de roupa de Francijane possa ainda ser trabalhada. Sherasade conta a história e como boa contadora que é, não precisa parar de contar para uma troca. Faz parte do jogo dela, do contador, do próprio jogo teatral, não é?

Outra coisa, quando finalmente Aladim e Yasmim ficam juntos, Sherazade, a música, a luz, tudo nos diz que o espetáculo terminou. Para nós tudo já se fechou. Mas não fechou, ainda falta resolver a historia da própria narradora, porem nós nem lembrávamos mais disso! Para nós o espetáculo acabou e pronto. Mas eis que de repente tudo recomeça e Mustafah derrotado volta para se vingar e só depois a peça realmente termina.

É como assistir dois episódios pelo preço de um. A peça tem uma hora e meia de duração, mas não é cansativa. Pelo texto acima, creio que dá para perceber isso. E também não sei até onde é ruim ter esses dois finais, já que trás novas e divertidas informações. Como disse, são dois episódios. Isso ruim? Não sei. Só sei que sai do teatro muito feliz e louco para escrever esse textinho. Feliz por ter me divertido, por ver um trabalho para criança que respeita seu intelecto, sua sensibilidade e principalmente, que respeita a criança desse homem de 35 anos.