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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Não Vamos Voltar!



Não Vamos Voltar!

Nessa manhã fria de 09 de junho de 2011 na qual a sensação térmica de estar no Ártico me acordou e não mais me deixou dormir, dois vídeos esquentaram meu sangue. O primeiro é um louvor à liberdade de expressão, um protesto em forma de paródia da música Oração, sucesso da Banda Mais Bonita da Cidade. Já o outro é um curta-metragem, um filme lindo, chamado Eu não Quero voltar Sozinho, que foi censurado no Acre por contar a história de um adolescente cego e homossexual.

Eu não vivi nos “áureos tempos” da ditadura e creio só poder imaginar o que é não ter o direito de se expressar livremente. Já imaginou você ser perseguido por não concordar com algo? Por ter uma idéia diferente? Já pensou ter medo de perder a vida ou colocar em risco sua família por dizer algo que incomoda algumas ou muitas pessoas? Ainda bem que houve heróis que lutaram contra essa forma de governo e hoje temos todos os nossos direitos garantidos. Mas será que temos mesmo?

Um lindo exemplo dessa liberdade pode ser vista no vídeo Construção - A Banda Mais Bonita da Universidade, feito por estudantes da UFPB, no qual protestam contra o atraso de um ano na construção do bloco do curso de Comunicação em Mídia Digital. Uma obra prevista para 150 dias e que se arrasta até hoje. Unidos, escreveram, ensaiaram e gravaram uma paródia de um dos maiores sucessos musicais dos últimos tempos do site de relacionamento e compartilhamento de vídeos You Tube. O clip da música Oração, dos curitibanos A Banda Mais Bonita da Cidade, teve segundo o Jornal do Comércio da cidade de Recife quase dois milhões de acessos em duas semanas. E na carona deste sucesso, os alunos daquela universidade fizeram uma prece em forma de protesto musical ao reitor Rômulo Polari, para que enfim não sejam mais prejudicados sem salas adequadas ao estudo das disciplinas de seu curso.

Na contramão do que idealizaram os heróis que lutaram contra a ditadura, no Acre, uma educadora apenas cumprindo seu papel, causou furor nos poderosos daquele estado ao utilizar um dos vídeos do Programa Cine Educação (uma parceria da Secretaria de Educação com a Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos), o curta-metragem Eu não quero Voltar Sozinho, que tem direção Daniel Ribeiro. O problema começou por pensarem que a obra fosse parte do polêmico “kit anti-homofobia”, ocasionando pressão dos líderes religiosos aos políticos, e estes paralisaram o programa como um todo. Tudo isso devido ao filme contar a história do personagem ficcional Leonardo, um adolescente cego e gay.

Segundo carta aberta dos produtores do curta no site da Lacuna Filmes acerca do Cine Educação, “os secretários de Educação e de Direitos Humanos do Acre estão articulando com o governador a possibilidade de garantir sua continuidade, enquanto os líderes evangélicos forçam o cancelamento definitivo do programa”. Porém, pasmem, se o programa voltar, o premiado Eu não quero Voltar Sozinho não mais fará parte do catálogo do projeto. Será mesmo que temos nossos direitos garantidos? Que democracia é essa onde não se pode discutir questões sociais dentro das escolas? Não se pode falar sobre sexualidade? É feio ser cego? Os Parâmetros Curriculares Nacionais, com todos os seus problemas, devem ser deixados de lado definitivamente? E por fim, o Estado não deveria ser laico? Isso tudo é lamentável. É um desrespeito a história do Brasil, a nossa cidadania. É mais um retrocesso na educação. Eu, enquanto artista, professor, brasileiro e ser humano, nesse momento, só sinto vergonha e vontade de fazer algo para mudar esse quadro.

Nesse sentido, peço licença aos autores do filme para o tomarmos como símbolo de luta contra a intolerância, a ignorância e o desrespeito. E também peço a todos vocês ajudarem a campanha Não Vamos Voltar, divulgando esse curta e não deixando morrer os nossos direitos. Compartilhemos em redes sociais, mandemos por e-mail, passemos em nossas salas de aula, comentemos sobre o assunto. Se nos calarmos frente a esse absurdo tudo que mais tememos estará muito mais perto de voltar a acontecer do que imaginamos.

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